Ler à Sexta-feira, no Meia Hora(um dos jormais de distribuição gratuita tendo como director Sérgio H. Coimbra), a crónica de Maria Filomena Mónica
Ontem:
" A vantagem de se desconhecer uma parte da árvore genealógica consiste em que a podemos imaginar diferente da que realmente foi, permitimo-nos adoptar a família que nos apetecer. Sabendo apenas que o meu avô materno era minho, sonho com os antepassados que gostaria de ter tido. Deixando de lado verosimilhanças sociológicas, imagino-me herdeira das personagens que povoam as crónicas de António Sousa Homem no Diário de Notícias.
Passei a comprar aquele jornal desde o dia em que ele começou a escrever no suplemento de sábado, admirando- me que as refundações do mesmo o não tenham afastado, porque forçoso é reconhecer, não deve ter uitos leitores. Nunca vi incluído em lista de frases, nem notei ser a sua prosa louvada pelos cristãos. Mas não é só o seu estilo que me atrai, mas o quotidiano gentleman de Moledo do Minho, à sombra tutelar de sua mãe, que o educou para suportar desgostos e desconsiderações, e do velho doutor Homem, seu pai, que se comportava como um poeta satírico cujo propósito era rir dos românticos. Este mundo de sombras interessa-me mais do que os amores do Dr. Luís Filipe Menezes, o jogging do Engº Sócrates ou as intrigas de Belém. Há dias estando a pensar na poesia de Cesário Verde, ri-me ao ler, numa das suas crónicas que o seu pai "costumava dizer que a choraminguice portuguesa tinha sido transformada em lei pelo constitucionalismo e pelos liberais que tanto assinavam decretos como nos puniam com sonetos". Como ele considero que o lado emocional da vida é coisa para consumo moderado; como ele não tenho fé; como ele, penso que o género humano é um mistério. Agora que as chuvas chegaram, dei igualmente comigo a cismar pelo Inverno. Se calhar a esquerda e a direita não é tão importante como isso."