Na Tapada da Ajuda, há esparsas pela relva e ainda pela beira da alameda muito frescas, fechadas em túnel para lá da curva numa obscuridade brumosa de onde ninguém vem, pequenas cápsulas secas e aromáticas, estriadas de branco em cor de pó de cinza, e que perfeitamente servem para chapéus de dedos. Há palmas de plantas recortadas em verde água, irradiando cobertas de esporos que se pegam aos dedos numa poeira dourada. Maciços de buxos verdes negro que cortam o ar com a segurança de múltiplos rebentos de galho e são, no entanto, apenas folha. Plantas rente ao chão, folha miúda estriada de amarelo e as de um só tronco, onde se enroscam em espiral duas, três folhas afiladas e extensas, cor de azebre em cobre velho. Flores como frutos de semente flácida, vermelha e muita, incrustada no topo do caule, largada pelo solo, caindo em outros verdes mais abaixo, ao menor toque de estranheza ou pata de insecto.
Flores como borlas miúdas de pêlo fino, translúcidas e que ao sopro se dispersam em diminutas asas brancas de doce queda. Corolas rubras,aos pares, enormes, parcas em sua planta mas intensas de bruta cor, de carnuda pétala. Hortenses graduando em cor lilás perto ao branco, do quase roxo ao azul certo, do rosa perto ao branco rosa vivo. E logo atrás, de tabuletas ao peito,arbustos como grandes ovos verde-negro sem tremura na aragem fina, no sol brando, coado das tortuosas copas, de novo verde água, cinza, azebre, verde loiro,verde pedra fina, verde negro, folha em palma de mão, em cera lustrosa, sino, uva grada, estrela, verde coração. Maria Velho da Costa, Maina Mendes, Moraes Editores, 1969