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"sou muito optimista! Não acredito em nada mas faço como se acreditasse e ajo como se acreditasse" João dos Santos
tenho saudades deste lugar,mas assim:
Guardei o som do pregão: Há enguias que já se vão vender, Há sardinhas do nosso mar e do carro de bois a passar à porta de casa; guardei o cheiro do peixe fresco da lota no areal e das camarinhas apanhadas no pinhal nas tardes de nortada; guardei o fustigo no corpo das manhãs de nevoeiro cerrado quando fazíamos corridas de bicicleta; guardei o sabor do primeiro beijo; guardei o subir a avenida central na companhia do meu pai, a ver o mar, todos os dias antes do jantar.
De manhã as ruas estão mais tranquilas, não há a correria dos pais a levar os filhos à escola, nem os resmungos habituais "despacha-te, não tenho paciência para birras, estamos atrasados". No entanto, à tarde, quando regresso do trabalho, ouço a criançada a brincar nos quintais.
Gosto tanto desta algazarra.
hoje foi assim:
- Olhe queria encomendar uns tubos que têm assim umas orelhinhas...
Tendo em conta o estado da nação, tenho andado com este crachat que comprei à Rosa Pomar, quando ela ia à feira do Jardim do Príncipe Real:
As janelas da vizinhança estão todas abertas, ouve-se o o telintar do choque dos talheres, conversas entre marido e mulher (umas alegres outras mais azedas). Há quem regue os jardins. As andorinhas já sossegaram. Há miar de gatos e ladrar de cachorros recém nascidos. As árvores não se movem. Há um bebé choramingão.
Na varanda com cheiro a manjerico, e andorinhas a revoar e reperiupicar num céu acinzentado. Há vozes de crianças a brincar nos jardins.