"VALHAM-NOS AO MENOS OS DOMINGOS" O ministro das Finanças anunciou na RTP que daqui a dez anos a Segurança Social não terá dinheiro para pagar reformas, sendo vivamente felicitado pelo ex-ministro Medina Carreira por ter tido a "decência de avisar o país". O país, decentemente avisado, soube depois, pelos sindicatos, que afinal as afirmações do ministro são "irresponsáveis" (Carvalho da Silva/CGTP) e "alarmistas" (João Proença/UGT). E, uff!, o país suspirou de alívio.
Dois dias depois, foram os sindicatos, através da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal, a anunciar que, a partir de Julho, a Polícia Judiciária irá "fechar as portas" por falta de dinheiro, e o país (com a excepção da vasta parte do país que ganha a vida com facturas falsas e espingardas de canos serrados) voltou, ai meus Deus!, a sobressaltar-se. Mas logo veio o ministro Alberto Costa garantir que as declarações do sindicato são "reprováveis" e "alarmistas", e o país voltou a respirar fundo.
E estamos nisto, às segundas, quartas e sextas, o país entra em pânico, às terças, quintas e sábados, sossega. Tem sido sempre assim ao longo da História: num dia soçobramos em Alcácer Quibir, no outro descobrimos o caminho marítimo para a Índia.
Valham-nos ao menos os domingos....
Manuel António Pina, JN, 12.01.2006