
Além da caminhada ao Areínho, outro dos nossos rumos, em tardes de Nortada, era ir passear para o pinhal do Furadouro.
Não era só para nos proteger da nortada quepara lá iamos, era para encontrar a Corema album, de seu nome vulgar camarinheira ou camarinha,que é um pequeno arbusto (não costuma ter mais de um metro de altura) da família Ericaceae que se encontra. em dunas e pinhais do litoral da Península Ibérica. Sendo um arbusto dioico, só os arbustos femininos dão as bagas que parecem pérolas e que têm um sabor agridoce. O cheiro das camarinheiras faz lembrar o cheiro a mel.
Vínhamos da mata com sacos e sacos cheios daquelas bagas brancas que comíamos à mão, em concha, cheia.
Há muito, muto tempo que não como camarinhas. No entanto, para além das inscrições na minha pele a que uns chamam rugas, outros marcas de expressão tenho outras, subterrâneas à pele, que me fazem estremecer quando me cheira - sem razão aparente- a camarinhas.

foto daqui
Deixo-vos com a Lenda das Camarinhas
Dizem que Santa Isabel,
Rainha de Portugal,
Montando branco corcel,
Percorria o seu pinhal!
-“Ai do meu Esposo! Dizei!
Dizei-me, robles* reais!
Meu Dinis! Senhor meu Rei!
Em que braços suspirais?!...
Os robles silenciosos
Do vasto Pinhal do Rei
Responderam receosos
– Não sei!...
E o pranto da Rainha
Nas suas faces rolava,
Regando a erva daninha
No pobre chão que pisava!
– “ Ó meu Pinhal sonhador
Que o meu Rei semeou!
Dizei-me do meu Amor
E se por aqui passou...”
Os robles silenciosos
Do vasto Pinhal do Rei
Responderam receosos:
– Não sei !...
Mas cristalizou-se o pranto
Em muitas bagas branquinhas
E transformou-se num manto
De brilhantes camarinhas!...
Eis que repara a Rainha
Numa casa iluminada...
– “ Quem vela nesta casinha
Numa hora adiantada ?!...”
Os robles silenciosos,
Tão tristes que nem eu sei,
Responderam receosos:
– O Rei!...
lenda retirada daqui